PACE(iência) - 1a parte

Depois da aventura da prova de perseguição em pista, perdi algum tempo analisando minha performance. O homem dos números me mandou a cronometragem das voltas (ok, elas foram no manual e contavam com uma margem de erro mas serviram o propósito) e, baseado nestes tempos descobri que mesmo tendo dado meu máximo naquele dia posso ter deixado algo a desejar no quesito “Pace”...

Pois é, pace numa prova que dura algo em torno de 5 minutos?!?! Eu devo estar ficando meio neurótico, qualquer atleta de endurance vai falar que é só respirar fundo, baixar a cabeça e fazer força do começo ao fim. Pra que “pace”?

Pois é... antes da prova eu também pensava assim, afinal de contas, quanto estrago um esforço extra poderia fazer em 4km? Bom, dei uma pesquisada na internet e me deparei com 2 coisas muito interessantes, a primeira é realmente de chorar – o recorde mundial de perseguição batido pelo super Chris Boardman (ele mesmo, o Sr. Recorde da Hora) no you tube: http://www.youtube.com/watch?v=NiM94C0nGW0&NR=1 - Assistindo esse vídeo deu pra perceber claramente como uma estratégia correta pode ser a sua glória ou a sua derrota, neste caso consegui enxergar os dois lados da moeda, Mr. Boardman fazendo uma prova progressiva e conseguindo a vitória e o recorde mundial e o super Collinelli saindo muito quente e quebrando no final.

Bom, então existe a possibilidade de se dar mal numa prova de 5 minutos (mais para 4 no caso deles) por causa de um erro de estratégia, um erro de pacing? Então o Google me ajudou a achar um artigo incrível sobre como dosar as energias numa prova de perseguição individual: http://alex-cycle.blogspot.com/2006/11/in-pursuit-of-perfect-pacing.html - pra quem domina o Inglês esse blog é excelente, mantido por um atleta australiano de alto nível que há pouco mais de dois anos teve uma perna amputada num acidente, e desde então mostra sua luta pra retornar às competições, agora como para-olímpico.

Agora o grande problema é o seguinte: se é possível estragar uma prova tão curta quanto uma perseguição individual imagina o que pode acontecer com provas de 2, 4, 6, ou até mesmo 10h?

Em provas de contra relógio, longas como 40k ou mesmo nas curtas de 4k, a prioridade é controlar o esforço no começo. Por experiência, numa prova que dura em torno de uma hora, a parte critica são os primeiros 5-10min (assumindo que você tenha feito um bom aquecimento), nas de 4k minha experiência ainda é quase nula, mas parece que o 1o kilômetro é a chave. Passado esse período é muito difícil estragar a prova por causa de erro de pacing, mas isso porque o atleta está “operando” no limite da capacidade máxima para o esforço – Geralmente na potencia máxima para o tempo de duração, portanto passada aquela sensação de pernas “novas” fica difícil extrapolar uma vez que já estamos no limite.

O grande problema se dá em provas ou treinos em que estamos trabalhando com frações de nossa potencia máxima sustentável, o que se encaixa perfeitamente no caso das provas de triathlon, sejam elas de curta, media ou longa duração uma vez que o ciclismo é só uma parte da prova, que te leva de uma modalidade à outra, e termina bem antes da prova acabar, portanto, achar que você está dando TUDO no pedal de uma prova de triathlon é um enorme engano, a não ser que você seja membro de um time de revezamento.

Este final de semana que passou, corri o Long Distance de Ubatuba, e pude aplicar uma estratégia de pace no pedal que acabou, na minha opinião, sendo algo próximo do perfeito.

Nas próximas entradas no blog pretendo escrever mais sobre estratégias e erros de pacing de Contra-Relógio.

Ah, a prova ontem foi DURÍSSIMA, mas tive um "bom" dia J

Nadando com os Tubarões



No último final de semana tive uma experiência única e grande demais para guardar comigo. Como há muito tempo eu quero ter um blog, nada melhor que aproveitar essa oportunidade pra tentar passar um pouco do que foi a minha participação no Campeonato Interestadual de Pista em Americana. Quem esteve lá, sofreu e vibrou junto comigo sabe que isso é só a ponta do Iceberg...

A prova de perseguição individual em pista, pra quem não sabe é uma prova que consiste em um "longo" CRI de 4km e que na história do ciclismo foi fundamental para o desenvolvimento da modalidade. Muito das posições, bikes, capacetes, rodas e etc.. nasceram graças à esta prova. E quem conhece um pouco da história do ciclismo sabe que legados foram criados nas pistas da europa em batalhas travadas por Britânicos, Franceses e Italianos. Bom, tem muito mais por tráz disso, mas somente este fato ja bastava pra colocar dentro de mim aquela vontade insuportável de um dia participar de um evento desses.

Há pouco mais de um mês atrás apareceu a oportunidade de fazer essa prova durante o Interestadual de Pista que aconteceu no velódromo de Americana neste último final de semana. Quatro semanas antes do evento eu decidi que iria fazer a prova e "programei" uns 6 treinos pra me preparar. Infelizmente desses 6 treinos eu consegui fazer 3, mas muito bem feitos, sendo que um deles memorável no velódromo de Americana naquela que foi a manhã mais fria do ano!!!!

Se eu estava preparado??? Falar que não é desdenhar da prova e dos outros competidore... Eu tô sempre preparado pra qualquer coisa em cima de uma bike de CRI e ao mesmo tempo nunca me sinto preparado o suficiente. Na verdade, nunca estive tão bem no pedal como nos últimos meses, protanto era mais uma questão de fazer ajustes finos de performance e estudar sobre o assunto, pois pode parecer que não, mas o fato de você ter que aparece para uma prova com uma bike sem freio, sem grupo e com uma relação de transmissão fixa é uma baita dor de cabeça. Mas infelizmente devido a fatores fora do meu controle não pude me dedicar tanto a preparação técnica para a prova.

A prova em si consiste em 2 etapas, a primeira aconteceu no sábado a tarde e envolve a tomada de tempo de todos os atletas inscritos. Os atletas largam 2 a 2, um de cada lado da pista e dão as 12 voltas (no caso do velódromo de Americana) no melhor tempo possível, não interessa se vc passa o outro ou se é passado por ele, o que vale é o tempo que você está fazendo, e somente os 4 melhores se classificam para as finas no dia seguinte - 1o e 2o tempos disputam ouro e 3o e 4o disputam bronze, aí, tudo o que o atleta tem que fazer é ganhar do outro - pode ser fazendo um tempo menor ou "perseguindo" e alcançando o outro (e nesse caso a prova acaba aí) por isso normalmente os melhores tempos se dão na 1a etapa, pois não dá pra "guardar" nada para depois.

Mesmo com a largada marcada pro sábado a tarde, tive que chegar no velódromo antes das 8 da manhã pra poder fazer a inscrição e ver se estava tudo ok com a bike pra competir (existem um monte de "poréns" pra uma bike de perseguição, medidas e padrões que foram endurecidas graças às invenções de um certo "escocês voador")

Chegar cedo na minha cabeça ia ser bom, pois eu tinha muitas duvidas pra tirar antes da largada e queira aproveitar para assistir às provas de velocidade que aconteceram no período da manhã.

Estava tudo conforme o planejado até que resolvi fazer umas perguntas sobre relação de transmissão para uns ciclistas mais experientes - Nunca se esqueçam disso: Ignorância é uma benção! Devia ter ficado na minha parcial ignorância e economizado energia emocional, que só foi sendo drenada cada vez mais a partir deste fato - Na minha humilde inexperiência eu achava que estava com uma relação muito leve, fiz alguns treinos e testes (não muitos pra falar a verdade) e achei que mesmo usando a relação mais pesada que eu tinha (52x14) estava com uma marcha muito leve e não ia conseguir atingir velocidades altas por que não estava confortável girando acima de 110RPM. Pra que? me chamaram de tudo que era nome, pois pra eles minha relação era absurdamente pesada, e segundo um ciclista muito experiente (participou de copa do mundo, jogos panamericando e ex-campeão brasileiro na modalidade) eu ia morrer antes do 1o KM - CARAMBA, tô na lama... mesmo tendo treinado e feito tiros com essa relação, alguma coisa ia acontecer e eu ia me dar mal somente porque eles disseram!!!

Bateu um baita bode, fiquei pensando na galera que tava indo pra la torcer por mim, iam me ver dar vexame. Comecei a duvidar do que eu tinha feito e duvidar da minha capacidade de girar aquele pedivela!!!! Fui pro carro, ficar um pouco quieto com minhas dúvidas. Peguei meu celular e li um torpedo que eu recebi durante a semana com uma mensagem muito positiva me desejando boa prova - "acredito muito em você", dizia a mesagem - Eu também voltei a acreditar em mim, recuperei minha confiança e resolvi não dar mais chance pro azar. Deixei a bike de perseguição guardada no carro atá a última hora pra ninguém ficar "cornetando" minha relação.

Lá pelo meio dia e meio montei Kuota com o Rolo na área de aquecimento perto de uma galera que eu sabia que não ia "drenar" minhas forças. Comecei a mexer o esqueleto, mas a prova que estava programada pra começar as 13h, àquela altura ia passar pra depois das 14... 

Pouco depois de montar minha parafernália e de começar a mexer o esqueleto, a inestimável Galera RM apareceu. Aí o ambiente ficou bem mais leve e descontraído e comecei a relaxar um pouco.

Objetivos e metas: Honestamente, pelo que eu havia feito em treinos eu achava que num dia bom, com tudo dando certo eu fecharia na casa dos 5min20" os 4k. Se tudo desse MUITO certo e o vento sopresse à meu favor, 5min15" era o céu. Mas depois de toda aquela aula que eu tive de imbecilidade ciclistica eu estava começando a achar que ia ter que me contentar com uns 5min30" e dar adeus as minhas esperanças de ir para uma final - O que já era difícil mesmo antes, pois os grandes nomes e equipes estavam por lá.

Lá pela uma e meia da tarde eu coloquei a Litespeed pra rodar na pista, girei um pouco, leve e depois comecei a dar umas voltas ritimadas, confortável mas fazendo força... Tirei algumas parciais de voltas e estava passando cada volta de 333m p/ 27", o que daria o km p/ 1'21" e os 4km p/ 5'24" (mais ou menos isso) tudo  bem que eu não estava partindo parado, mas estava colocando uma fração da força que eu pretendia fazer na prova. As pernas estavam MUITO boas, e todo o treino da semana não parecia ter tirado nada. Eu estava me sentindo 100%.

Parei e fui conferir a ordem de largada - a hora que eu fiz minha inscrição a única coisa que eu pedi foi pra não estar na 1a bateria, pois como nunca havia participado de uma prova dessas, gostaria de ver como os outros atletas se comportavam e queria tirar um pouco do nervosismo. Em vão.. estava lá, LODD e um cara de Presidente Prudente na 1a bateria. Puts!!!!

Ainda deu tempo de chegar no cara dos números, o Luiz "Malky" Eng e pedir pra ele me cronometrar. Eu não queria sair rasgando e morrer antes da metade da prova (isso já tinha acontecido em treino num tiro de 3km) portanto pedi pro meu brother gritar se eu passasse qualquer uma das 4 primeiras voltas abaixo de 27segundos. E fui alinhar na largada.

Bom, além de estar na primeira bateria, o simpático atleta de Presidente Prudente não deu as caras na largada. Estava lá, eu sozinho e do lado oposto ao da torcida RM... Nervoso???? não da pra descrever o nível de nervosismo que passava por mim, tanto que a comissária mesmo depois de eu ter dado ok falou pra eu soltar o guidão e relaxar um pouco antes da largada. Respirei fundo, lembrei do "acredito muito em você" e falei pra comissária "Tô pronto. Nasci pronto!" 3, 2, 1 ...

Parti.

Meu medo de cair na largada por causa da minha relação estúpidamente pesada não se confirmou, consegui dar o primeiro giro dos mais de 500 daquela prova e respirei aliviado por estar me movendo (e não no solo). Acelerei em pé na bike até metade da curva, sentei, clipei e comecei fazer força. Lembra do lance de ter pedido pro Eng gritar se eu estivesse muito forte? esquece, depois de duas voltas meu o ouvido ouvia um apito leve que só era quebrado pela gritaria da "TORCIDA RM" e a visão ficou meio de túnel, perdi a visão periféica e tudo que eu via com clareza eram as duas faixas do velódromo que eu tinha que me manter, o resto era meio escuro e borrado - impossível de descrever.

Depois da marca de 2km, eu estava no limite, e a única coisa que me motivava a continuar forçando era o fato de saber que em mais alguns segundos ia passar pela "minha" torcida de novo e ganhar mais um empurrão!

Fui indo, uma volta atrás da outra e as plaquinhas iam descendo mas eu nunca sabia se o que elas marcavam era o que faltava ou ia faltar a partir dessa volta, não interessava, eu ia continuar naquele esforço até ouvir  sino ou até cair duro!

Derrepente o som maravilhoso do sino, era a última volta. Dei tudo que tinha pra fechar aquela última volta e pronto... acabou!

Ainda dei quase duas voltas até voltar distinguir os sons, e a 1a coisa que escutei foi: "Luis Otavio Duarte, avulso, cinco minutos, dez segundos e..." Caramba!!! não acreditava! imediatamente passei cumprimentando minha torcida e fui pra baia soltar.

A hora que cheguei lá o pessoal da equipe de Americana, Ribeirão e São Caetano estavam vibrando com o tempo.

Bateria após bateira os tempos vinham tudo acima de 5min20s. Comecei a ficar confiante e achar que ia dar, que tinha realmente feito uma grande prova...

Bom, o Piá (campeão Brasileiro de perseguição) estava lá e com certeza ia fazer tempo melhor que o meu. O Bobão, e o Wolverine (atletas que já disputaram mundial, panamericano e ja foram campeões) também iam arrebentar meu tempo, mas ainda sobrava a esperança de ir pra final com um 4o lugar!

Mais de uma dezena de atletas tomaram tempo e o tal do "Luis Otavio, avulso" ainda estava em primeiro. Até que o Tiago Nardim da equipe Sundown São Caetano, que não estava na minha lista apareceu e fez 5min6s. Na minha cabeça já era, mas a galera ainda torceu contra um montão...

Apareceu o Wolverine e fez 5min6s também.

E na última bateria uma prova emocionante entre o Bobão e o Piá deu 5min2s pro Piá e "incríveis" 4min55s pro Bobão (é, de bobão ele não tem nada)

29 atletas se inscreveram, acho que 26 largaram, e o triatleta imbecil que foi com uma relação monstruosa ficou em 5o, a 4 segundos de uma final!!!!!!!!!!!!

Tempo oficial: 5min10s858. Pouco mais de 4s e meio kilômetro por hora abaixo do tempo que me levaria para uma disputa de medalha. Tô de alma lavada!

Infelizmente o Patrick (meu mais novo) estava meio doente e a galera de casa não pode ir, mas queria mais uma vez agradecer a Torcida RM que esteve lá em peso e fez a barulheira de sempre: Alê, Ferra, Tá, Jú, Aline, Shoraya, Rodolfo, William, Fred (que me emprestou uma roda disco com rosca para usar no dia), Téo, Alessandra Eng e finalmente o "Malky" do Vinhedense voador
Luiz Eng que ajudou pra caramba mas provavelmente vai ser banido das próximas provas de ciclismo de pista :-)

O entusiasmo bate forte depois de um dia assim, e eu fico me perguntando "e se" - e se eu treinasse pra isso? e se eu tivesse começado mais cedo? e se eu nunca tivesse fumado, bebido, pesado 130kg??? (in)Felizmente essas coisas nunca vamos saber.

Setembro tem mais e em Novembro tem o Brasileiro no velódromo do Pan. Se eu vou fazer??? Bom, por enquanto volto a ser o triatleta de sempre porque, afinal de contas, Ubatuba já ta aí!

Bjs