O Capacete do Wiggins



Já tinha visto em foto e em ação no velódromo, mas hoje depois da etapa do CRI no tour vi em ação na estrada e fiquei convencido...

Outro dia em uma troca de idéias com o mundo-tri no Twitter sobre aerodinâmica eu levantei a bola do quanto os capacetes aero, tradicionais realmente "ajudam" numa prova de triathlon, principalmente nas de longa distância.

Para isso, temos que levar em consideração que o grande benefício aerodinâmico deste tipo de capacete (gota) se dá quando estamos olhando pra frente e o "rabo" do capacete está grudado nas costas (ou bem próximo). Aí, basta assistir uma prova de IM ou de 70.3 para vermos que grande parte do tempo a cabeça do atleta se mexe da posição ideal por vários motivos... comer, beber, olhar para o cateye, olhar para o fiscal, e por aí vai... Não é uma prova de CRI onde a estrada está completamente a nossa disposição, o carro atrás vem dando informações no rádio e onde o atleta não precisa ingerir liquidos e calorias para correr depois.

Por isso, por mais que alguém ache que passa a maior parte do tempo com o pescoço travado na posição, ainda assim se mexe muito - Isso sem contar aqueles que não aguentam ficar no clipe e passam grande parte do tempo levantando e alongando. Em muitos casos, um capacete normal atrapalharia menos.

Hoje durante a transmissão do Tour, observei durante muito tempo o Bradley Wiggins pedalando com um desses. aero. E reparei que cada vez que ele se mexia a área frontal dele parecia não se alterar. Ele olhou pra baixo várias vezes, para o lado algumas e bebeu líquido de sua caramanhola uma vez. em nenhuma delas a área de arrasto pareceu aumentar significativamente.

Vale lembrar que esse tipo de capacete foi desenvolvido para provas de velódromo, onde muitas vezes é necessário ao atleta olhar pra trás ou pro lado acima dos 70kph.

Na equipe de pista a gente tem um mais ou menos parecido... Eu já usei uma vez no velódromo pra testar e depois de hoje estou propenso a testar numa prova de longa. Talvez no 70.3, vamos ver...



Décimoquinto


Honestamente eu não entendo toda essa comoção que tomou conta dos blogs e twitters sobre a etapa de ontem do Tour de France.

Antes de mais nada, quero deixar bem claro que não gosto do Alberto Contador, nem do Andy Schleck. Por motivos completamente diferentes, o primeiro não inspira confiança desde sua suposta parceira com o Dr. Fuentes (Operação Puerto) e o segundo porque na minha opinião não é merecedor (ainda) de uma camisa amarela por não ser um ciclista completo. Se tivesse que torcer pra qualquer um deles, eu optaria pelo Schleckinho somente pelo apelo de ser jovem e mais nada.

O que não entra na minha cabeça é que nessa onda de “torcida” pelo mais novo, o Espanhol começou a ser crucificado como se ele tivesse arrancado a corrente da bicicleta de Andy Schleck de propósito, e depois atacado pra deixar o camisa amarela pra trás.

Era o fim de uma subida duríssima, a mais de 2000m de altitude, na parte final de uma etapa igualmente dura e já no decorrer a 3a semana de uma das provas mais duras que o homem já inventou. Nesse contexto, o “caçulinha” do pelotão e detentor da camisa amarela resolveu atacar perto da marca de 1km para o fim de uma montanha de HC.

Seu concorrente direto, Alberto Contador partiu logo atrás para neutralizar o ataque e “possivelmente” contra atacar. Nesse momento caiu a corrente do primeiro. Nunca vai se saber a causa, mas na minha (pouca) experiência, correntes não caem por acaso – pode ter sido falha do atleta na troca de marcha, má regulagem do equipamento, etc.. E, o agora anti herói espanhol, prosseguiu em sua empreitada, juntamente com outros dois candidatos ao pódio em Paris - diga-se de passagem. Terminou a etapa 39s na frente do Andy Schleck e tomou-lhe a camisa amarela.

Pronto... tinha sido cometido o maior pecado do mundo do ciclismo aos olhos de alguns.

O engraçado é que nessas horas, ninguém leva em consideração que aquilo é uma corrida de bicicletas, e que os mais de 200 atletas que largam na prova estão lá para competir, não pra tomar champagne em cima do selim no Champs Elisée.

Assim que eu assisti a etapa eu fiquei indignado com os ataques ao espanhol, e até comecei a “gostar” dele. Afinal de contas, Schleck não tinha sido derrubado por uma sacolinha e nem parado por um padre irlandês.

Fiquei me imaginando à 2000m de altitude, tentando neutralizar um ataque fulminante, no máximo das minhas forças e já completamente focado nisso. Sem oxigênio no cérebro e mirando naquela camisa amarela que eu tanto queria pra mim... A hora que eu visse meu oponente diminuir o ritmo o que eu ia fazer era “passar voando” por ele e “dar na cabeça” como diria o Celso Anderson (na gíria do ciclismo J). Sinto muito, mas nessa hora a última coisa que eu iria querer saber é o porque ele diminuiu... se caiu a corrente por “acidente” ou por problema de “inoperância”. É uma corrida, pelo amor de Deus... ele não é da minha equipe e é meu oponente direto. Depois, na linha de chegada ele me explica tudo!

Só pra lembrar, na etapa dos Pavês tanto Lance Armstrong quanto Alberto Contador furaram o pneu, o que nesse caso poderia ter sido considerado como uma fatalidade, ou não já que era esperado furos e tombos numa etapa que se dava grande parte em paralelos, sei lá... Mas ambos eram concorrentes diretos à camisa amarela juntamente com Andy Schleck, e ele não parou para esperar ninguém – a propósito, aquela margem de 31s que ele tinha sobre o Contador foi toda construída nesse dia!

Ainda podem falar sobre a ética do pelotão e suas "leis"...

O pelotão tem sua maneira de impor a ética, no caso de ontem, haviam mais dois candidatos ao pódio e que provavelmente vão tirar posição do Schelckinho no último CRI que estavam junto no “ataque”. Se fosse de senso comum o “erro” eles teriam forçado o espanhol à esperar, o que não aconteceu. E, se o resto do pelotão entender que ele foi desleal, com certeza ele vai acabar pagando por isso mais cedo ou mais tarde, uma vez que esses caras correm juntos a “vida toda”.

Alguns comentários excelentes sobre o tópico apareceram no Twitter entretanto:

Taylor Phinney (esperança americana sub-23) disse: “Sinto pena do Schelck pelo azar de hoje, mas também sinto pena do Contador pois vai ter que aturar um monte de ‘sh..’ por causa disso” e depois emendou “Mas se eu fosse um ás nas montanhas, excelente no CRI e com dois títulos do Tour eu provavelmente teria esperado”

E o grande Chris Boardman mandou: “Pergunta: estava Andy Schleck usando um ‘chain guard’? Se não foi uma opção dele, se sim como a corrente pode escapar?” e hoje mandou “Pergunta: se eu estou com a camisa amarela e opto por usar um super pneu leve que vai me dar vantagem mas vai furar toda hora, os outros devem ficar esperando por mim?”

Bom, é pra se pensar...

LODD

Aquela época do ano...


Como todo ano nessa época, o Giro já esquentou a temporada e o Tour de France está bombando na TV. Eu, como um amante do ciclismo já programei treinos diferentes, e estou renovando o estoque de empolgação por mais 365 dias J

Sábado começou em grande estilo, com um prólogo rápido nas avenidas de Roterdam. Lógico que eu fui treinar corrida cedo, e antes das 11h eu já estava grudado na frente da TV, com o meu Frances macarrônico assistindo à transmissão da TV5, pois aqui no país do futebol, mesmo estando eliminados ainda é copa do mundo e lógico que os 5 canais de esporte em território brasileiro continuam falando do Dunga, dos sonecas e zangados...

Prólogo de 8,9km comendo solto e idéias começaram à aparecer, baseadas nas dúvidas que eu tenho tido em relação à minha própria performance, e o jeito como as coisas foram acontecendo na minha “vida de atleta”.

Quando a gente pensa em uma prova de 23 dias, com etapas megaloquilométricas, grande variações de altitude, escaladas feitas pra alpinistas, vem aquela dúvida: o que um CRI de 10 minutos pode mostrar? Que diferença pode fazer?

Lógico, que algumas coisas não mudam... a moto Cancellara, colocou uma semana (sim 10 segundos nesse nível é coisa pra caramba) no segundo colocado, Tony Martin (que embora tenha nome de astro porto-riquenho é Alemão), um excelente contra-relogista, que em sua defesa pedalou em percurso muito mais molhado que o suíço e, que também colocou uma semana em cima do britânico David Millar, 3o colocado.

Até aí nada de surpresa, os 3 são especialistas nesse tipo de prova, e como bons especialistas, devem trabalhar para companheiros mais “completos” no decorrer da prova, com exceção do suíço que anda tão mais forte que o resto da população mundial que provavelmente vai defender sua posição na força bruta, e na minha opinião embora tenha alguma chance na classificação geral, são remotas.

O que surpreende é ver os favoritos pela briga geral figurarem entre os 10 primeiros.

O quanto completo um atleta consegue ser? Mr Lance Armstrong e Sr. Alberto Contador realmente são dignos dos títulos que conquistaram. Como conciliar capacidades tão diferentes? Potência, passo, subida, endurance??? É a questão que tem assombrado minha vida em cima da bicicleta ultimamente.

Para nós atletas normais, não dá pra conciliar tudo. Como eu tenho sentido na pele (e nas pernas) ultimamente, quando você foca em um evento específico, os outros sofrem... e se esquecidos podem até agonizar. E a verdade não é diferente, inclusive para campeões olímpicos e mundiais. Vide a performance do (também forte concorrente ao titulo) Bradley Wiggins – que até dois anos atrás seria o homem a ser batido numa prova como a de Sábado, pelo simples fato de ser especialista nisso. Campeão Olímpico e Mundial da prova de perseguição este era o único que talvez tivesse credenciais para bater a moto-cancellara, mas não chegou nem perto. Mostras que todo o trabalho realizado para torná-lo um ciclista “completo” mexeu naquilo que ele tinha de melhor.

Muitas coisas à se pensar e aprender com tudo isso. Inclusive várias dicas de treinamento para “migrar” as distancias no triathlon podem ser tiradas daqui... Enquanto isso eu brigo com as minhas dúvidas, e provavelmente terei muito mais que escrever sobre isso.

O que eu vi durante a prova:

Lance Armstrong está de volta. Eu que fui um grande critico do seu retorno ao ciclismo hoje dou a cara à tapa. Ele ir bem num CRI de 9km não quer dizer nada... ele podia até ter tomado um minuto do tempo do Cancellara que não ia fazer diferença. Ele em cima da bike é que me impressionou. Voltou a ser o Lance dos sete títulos, uma peça só. Alem de estar magro ele provou que está forte.

Família Schlek: Infelizmente esses dois vão ter que nascer de novo pra aprender a fazer um CRI. As vezes eu, na minha arrogância acho que até seria capaz de brigar com eles, de tão ruim que eles são. Lógico, que como eu disse antes isso pouco conta agora... mas a história mostra que quem quer ser campeão do Tour precisa saber se defender num CRI.

A história do motorzinho na bike: Bom, a UCI abriu os olhos pra mais essa armação e andou “escaneando” as bikes após o prólogo. Fabian Cancellara aproveitando a fase disse “se quiserem achar motor, é melhor escanear minhas pernas” J. Pra quem larga com os seguintes dizeres no capacete “World & Olimpic Champion” além da camisa litrada de campeão do mundo, pra que motorzinho? Só isso já valem os 50w extra!

Com certeza serão 3 semanas de muita pauleira e esse ano eu acho que o resultado vai ser muito “apertado” se os grandes nomes passarem pelos tombos da primeira semana.

LODD