Off Season - parte 1


"Practice does not make perfect. Only perfect practice makes perfect." - Vince Lombardi

Este não é um post sobre o que fazer na “off season” ou na pré temporada, somente algumas idéias que me pareceram importantes após assistir a última etapa do Troféu Brasil neste final de semana (durante a minha off season J). Coisas que muitas vezes esquecemos ou deixamos de lado no intuito de “treinar forte”. Coloco como “off season” pois as férias e a pré temporada são um bom momento para se tentar melhorar coisas que deixamos de lado durante o período de competições

A primeira coisa que com certeza vai te poupar tempo (e talvez vexames) em provas, é o simples ato de aprender andar com a tua bike de competição. Não, não é voar em linha reta nem fazer contra-relógios em estrada. Estou me referindo ao simples fato de “andar de bicicleta”, fazer coisas que parecem ridículas até para crianças – Meu filho de 13 anos estava comigo em Santos e conseguiu contribuir com alguns detalhes que até eu deixei passar.

É simples, você precisa estar confortável em cima da bike. Comer, beber, subir, descer, montar, desmontar, frear, fazer curvas, passar marcha... devem ser coisas naturais para qualquer atleta que usa a bicicleta para competir. Coisas simples como estas podem gerar “atritos” e stress desnecessários no calor da prova, além de acidentes.

Quando eu me meti no meio do ciclismo sabia que precisava melhorar minha performance em cima da bike, mas não era a quantidade de força que eu colocava nos pedais e sim o quanto desta força eu economizava. Nas minhas primeiras provas no pelotão eu gastava 90% da minha energia corrigindo meus erros... diminuía muito nas descidas e por isso tinha que fazer força pra buscar o pelotão novamente; fazia curvas “quadradas” e, enquanto todo mundo passava a 40kph eu diminuía muito e depois “toca” ir atrás do prejuízo; perdia a inércia nas subidas e tinha que ficar acelerando constantemente pra andar com o pelotão; e coisas do tipo.

Numa prova de triatlo, algumas “manhas” acabam economizando muito tempo e energia:

Curvas: Essa é a parte que mais dói de assistir. Para quem vê de fora fica claro a aversão que nós triatletas temos de colocar o volantinho em uso. Santos tem 3 curvas travadas por volta, mais a do retorno para os que estão fazendo olímpico, sendo que 2 delas são curvas 180o de baixíssima velocidade (de novo, mais a do retorno para olímpico) onde as velocidades caem abaixo dos 10kph – Pra que sair de 53x19??? – Além disso, aproveitar a pré-temporada para aprender fazer curva fechada pode acabar economizando quase 1min por volta. Não é difícil, dá pra fazer na garagem do prédio ou no estacionamento de um supermercado vazio, num parque... tudo que você precisa é de uma caramanhola, coloca ela no chão e usa como “cone”, vai fazendo curvas cada vez mais fechadas até estar confortável. Usa o câmbio, deita a bicicleta lembrando que quanto mais deitada ela estiver mais você deve compensar com pressão no pedal externo. A hora que estiver “confortável” começa a pegar a caramanhola do chão com uma das mãos.

Equilíbrio: Esse é com certeza o maior fator de risco quando se anda em alta velocidade, ainda mais em grupos como têm acontecido (Pirassununga teve pelo menos uma queda em pelotão). Quando eu quis ficar sério nesse negócio de andar em provas de ciclismo com mais de 500 atletas se “encostando” toda hora comprei um rolete (rolo solto daqueles que, o que mantém você em cima da bike é a pedalada e o equilíbrio) e não descansei enquanto não consegui ficar confortável pedalando sem as mãos, bebendo e comendo sem cair. Mas não precisa de um rolete pra isso, usa um lugar livre de trânsito e pedale sem as mãos, faça curvas, acelere e diminua. Sinta o embalo da bike, o centro de gravidade e o balanço. Depois comece a por e tirar coisas do seu bolso de trás ainda sem as mãos no guidão, quanto mais devagar, melhor. Eu me contentei a hora que eu consegui puxar uma capa de chuva, vestir, tirar, enrolar e guardar novamente no bolso – muitas vezes, abdômen/lombar fracos pode prejudicar esse tipo de tarefa. Lembre que as mãos no guidão / aerobar servem somente para dirigir a bicicletas, qualquer “equilíbrio” vindo das mãos no guidão servem somente para tensionar a musculatura do pescoço e do braço, gastando energia.

Montar e desmontar: Essa é somente treino, por e tirar a sapatinha andando, ou clipar e desclipar o pedal. Pode parecer besteira, mas tem muita gente que tem dificuldade de sair pedalando quando parado por não conseguir encaixar o taquinho no pedal em baixa velocidade sem perder a estabilidade da bike. Neste domingo vi um monte de “quase acidentes” acontecerem na saída da T1 por causa disso. Tem que treinar até conseguir fazer isso de olho fechado.

Andar em linha reta: sem mencionar a quantidade de acidentes que podem acontecer pelo efeito zigue-zague vamos concordar que se um atleta não está pedalando em linha reta está gastando energia? Trabalhar o equilíbrio mata 90% deste problema. Para treinar, pegue uma referência como faixa de asfalto numa rua ou avenida (sem movimento pelo amor de Deus) e ande em cima dela, peça para um amigo vir junto umas 2 bicicletas atrás, e a cada 1min olhe pra traz, cada vez por cima de um ombro para ver o outro ciclista. Se você desviar mais de um palmo da linha pede pra ele avisar e pratique até que não saia da linha.

Mudança de marcha: Pedale com ciclistas, moutain biker’s e aprenda a usar as marchas da bicicleta, girar leve e pesado, acelerar e desacelerar... A gente tem mania de usar 3-4 relações em bikes com 20 combinações possíveis. A não ser que seja por sujeira e chuva em excesso, 99% das vezes que uma corrente escapa da pra arrumar sem descer da bike, é só uma questão de descruzar o câmbio e passar a marcha pra cima de novo pedalando.

Como disse no começo esses são detalhes observados no último domingo, coisas que eu achei relevante... Somente a prática perfeita leva a perfeição!

Mais “off season” a caminho J

LODD

* P.S.: E como num post escrito a 4 mãos, publicado quase que simultâneamente este escrito pelo Max da Kona Bikes agrega outros pensamentos - clique aqui

8 comentários:

Max disse...

Tive que dar risada...acho que estamos sintonizados. Mal acabei de escrever meu post, li o teu....se tivesse combinado não tinha dado tão certo. E muito apropriado o comentário sobre o teu filho - quanto podemos aprender olhando para eles!

simplifique disse...

ótimo post.
realmente, tem muito nego em t1 que demora mais tempo para subir na bike do que o meu filho.

ciro violin disse...

Quando o LODD fala sobre bikes, abaixo a cabeça, escuto e aprendo.

Belo post!!

O Xampa tem um pouco de birra com os caras que tem bikes a la Batman e pedalam a la chimanzé de circo.
Não é Xampa?

ciro violin disse...

Desculpe, o correto é Chimpanzé, faltou o ``p´´

A Rita poder me processar por este erro.

Unknown disse...

Fala Mano. Como disse prá Tá, postagem não é muito minha praia, mas chegou a hora de agradecer publicamente a paciência, a amizade e as várias dicas de bike que vc me passou durante o ano. Tenho várias delas gravadas e essa será mais uma. Devo a Rô e a vc minha evolução na bike. Felizes são os que podem tê-lo como amigo e professor. Brigado por td durante o ano, cumpadi. abç. Ferra.

Marcos Apene do Amaral disse...

Vá até lá: http://www.mundotri.com.br/forum/viewtopic.php?f=16&t=11
Abraços

erik coser disse...

boas dicas. Qdo iniciei no triathlon, vi q o pessoal é ruim de roda msm. Na última estapa do brasileiro olímpico, aqui no ES, vi muito atleta passando direto na curca de 180o. E olhe que eram atletas tanto a elite como amadores. Tem vários educativos num livro legal sobre treinamento de ciclismo: base building for cyclist. Vcs podem achar na amazon e encomendar.

simplifique disse...

Verdade Ciro.
Gosto do conteúdo e pouco da forma.
Sem falar que aprecio a técnica em relação a força bruta.
E isso, para qualquer esporte.
Valeu !