Why are you here?


Comecei a escrever um pouco no avião na viagem SP-Geneve... Alguma coisa falando da preparação e o que me levou a essa prova. Depois perdi o interesse, mesmo porque ia ter muita parte técnica e muitos “porque’s” que ainda não estavam claros para mim.

Aí veio a prova... começaram as etapas, dia após dia as coisas foram acontecendo. Tentei registrar um pouco da emoção no meu twitter e facebook, como se fosse um “flash” instantâneo do primeiro resumo que vinha na minha cabeça após cada etapa. Escrever sobre isso ia acabar refletindo somente a euforia do momento, que era MUITA!

Hoje, dois dias depois de terminada essa enorme viagem, no trem rumo a Milão as idéias começaram a se acomodar... não sei se vai ser publicável, se vai fazer sentido pra alguém que não seja eu mesmo, e se as paisagens ao longo do caminho vão permitir uma seqüência lógica. Mas eu preciso arquivar essas idéias em algum lugar.

A pergunta acima, ficou martelando na minha cabeça a semana inteira, e a cada dia que passava ela parecia mais complicada de ser respondida.

Dia 18 de agosto, Sábado, estava na “Race Village” em Geneve. Logo após retirar o meu kit, estava apreciando a paisagem do lago, do jato d’água e o Mont Blanc ao fundo quando escutei meu nome ser dito pelo mestre de cerimônia no meio de um monte de palavras em Frances – fiquei preocupado que algo estivesse errado e corri no palco perguntar o que tinha acontecido.

“Vocês me chamaram?” perguntei?  “alguma coisa errada?”

“Você é o Luis Otavio Duarte? “ respondeu ele já emendando “Você acaba de ficar famoso” em tom de brincadeira.

Eles estavam falando alguns nomes e nacionalidades inscritos na prova aleatoriamente e o meu calhou de aparecer bem na hora que eu estava por perto.

“Sobe aqui, falou ele” em Frances e traduzido pela companheira dele em inglês.

Subi, e uma série  de perguntas começaram...

“Brazil? Como é treinar por lá? O que você espera da prova??” e por aí vai. Mas no meio da conversa, uma pergunta me pegou desprevenido:

“Porque você está aqui?”

Eu sei que parece óbvio. Eu amo bicicleta, fã do ciclismo, morria de vontade de pedalar onde os grandes mitos nasceram... Mas ela foi muito mais fundo. Desafio? Ahhhh.... com certeza é um motivo, mas seria ele o principal? Quantas insanidades eu já cometi com essa justificativa? Maratona, Ironman, 12h de ciclismo... Sempre somos movidos por desafios, em cada aspecto das nossas vidas...

Mas dessa vez, “desafio” não foi suficiente pra cobrir o vazio.

Durante os últimos 6 meses, eu queria estar ali. Eu treinei pra estar ali. Mais uma vez, eu esculhambei demais a família toda pra poder estar ali. Abri mão de muitas coisa para estar ali.

Mas porque?

Aquilo era ciclismo. Sim, mas não era minha praia. Embora eu tenha treinado subidas, melhorado muito nesse quesito. Perdido peso... Eu ainda estava longe de ser um atleta desse tipo de prova. E isso ficou claro no dia anterior a prova, ainda em Geneve, no briefing da prova.

Mas aquele tipo de ciclismo, foi o que me trouxe para o esporte. Ter a oportunidade de subir aquelas montanhas míticas, ombro a ombro nem que fosse com mais um ciclista, nem que fosse disputando a última posição da prova pra mim siginificava, por um momento me ver como os “grandes”. E isso pra mim passou a bastar. Passou a valer todo o treinamento, toda abdicação, todo o sofrimento.

A EUFORIA de estar no meio de um pelotão, passando pelas pequenas ruas de cidadelas francesas, e subir ombro a ombro num pelotão até que grande os 9 quilômetros do Col de Romme (primeira das 19 montanhas da semana) foi o primeiro sinal do “porque” eu estava ali.

Lágrimas escorreram do meu rosto. Uma emoção que até agora eu não consegui traduzir em palavras. Um sonho virando realidade.

As etapas se desenrolaram, dia após dia. O cansaço acumulou. Seguiram-se dias de muito mais euforia, dias de dor, dias de medo, dias de respeito, dias de muito aprendizado... dias de HUMILDADE.

Todo dia eu escrevi um pouco sobre cada etapa, publiquei meus dados. Tenho tudo guardado e, muito provavelmente, depois das minhas férias vou acabar colocando isso em ordem aqui.

Por enquanto o sentimento que fica, e que eu quero passar é o de REALIZAÇÃO PESSOAL.

E antes que me perguntem – e já me perguntaram – eu sei que ainda é cedo, mas NÃO... Eu não pretendo fazer essa prova de novo...

Eu sei que as coisas mudam. Mas hoje, o sentimento que eu tenho é de que eu não quero que uma segunda experiência possa apagar a primeira. Ou até mesmo estragar...

Estou realizado plenamente com a prova, com o esforço que eu coloquei, com o que eu me dediquei e não quero que uma 2a experiência, junto com expectativa de melhora (ou piora) possa arriscar isso. Pra mim, esse é um daqueles momentos da vida que eu queria congelar. Mas já que não é possível, vou fazer de tudo pra que ele permaneça assim. Ao invés de “meu primeiro Haute Route” vou me referir a “MEU HAUTE ROUTE”.

6 comentários:

Cachorrão disse...

Meu amigo LODD,

Eu estava esperando você escrever algo assim. Embora no facebook as notícias foram legais, eu esperava realmente saber como foi pra você.
Quem sabe um dia eu faça algo assim, por hora me contento com o que temos por aqui.
Obrigado por dividir isso conosco!
Abraço.
Ricardo Cachorrão

camargojr disse...

Lodd, desde o começo de quando vc postou no Facebook que tinha feito a inscrição e começaram os treinos, eu tenho acompanhado de longe toda essa aventura. Eu adoro o ciclismo, como também adoro um desafio, mas na fase em que estou da minha vida, me contento de verdade com a realização dos desafios dos amigos e que a gente torce, vibra e acompanha de longe, no meu caso, nem exatamente torcendo para estar lá, mas apenas torcendo de verdade pelo sucesso daqueles que diariamente optam, abdicam, renunciam de várias coisas para cjhegar lá. Não posso nem imaginar a alegria de chegar pedalando ao todo do Huez. Numa prova então, nem se fala. Mas saiba que sua realização me deixou muito feliz e orgulhoso. Eu acompanhei vários posts com os treinos, as distâncias, a potência, o HR e sei do esforço que dete ter sido prá conseguir completar essa prova. Meus mais sinceros parabéns !!!!!

Aninha disse...

Partner do meu coração...
Já fiz minhas declarações de orgulho...de amizade... de amor... e de saudade pelo FB... Chega de lero-lero! ahahaha... :-))
Meeeeeeeeuuuuuuuuuu!!!! Volta logoooooooooooo!!! hihihihi
Nao! Desculpa... Curte bastante a Lu!!! Ela merece!!! Ela faz parte desta tua conquista... Só chegamos onde chegamos com o apoio das pessoas que amamos a nossa volta... família e amigos são tudo nessa vida! ;^)
Mas... Então... já te falei, mas vou repetir:
YOU´RE MY HERO!! :^)

E na volta tem "surpresinha"! ahahahaha... E... como já disse, não aceito não como resposta! ;^)

Aproveita as fééééééérias!!!!

Parabéns por mais esta conquista...pela pessoa... e pelo atleta que é... Na verdade... o atleta é uma consequência, ne? ;^)

É uma honra poder participar "um cadinho" da sua vida e aprender com vc.

Bjocas,

Aninha!

3 ATHLON NA VEIA disse...

Parabéns...pelo empenho por ser um grande atleta e principalmente por sua postura. Seu texto mostra isso.

Bruno Pinheiro disse...

Lodd,

Parabéns pela prova! Acompanhei pelo Strava todo os treinos e toda e prova e deu para sentir que não foi fácil.

De qualquer forma você é merecedor pois batalhou, treinou, mereceu!

Parabéns mais ainda pela humildade nas palavras. Se não tivessem outras pessoas trabalhando aqui do meu lado eu levantaria em frente a esse computador para aplaudir suas palavras.


Parabéns novamente e agora curta as férias!

Abraços!

Cyro disse...

Lood,
Acompanho seu blog por intermédio do Max,um amigo em comum, você mais uma vez demonstrou com suas palavras o seu caráter e que tipo de atleta e ser humano que você é.Todo esse seu sentimento eu tive no primeiro Iron que eu fiz e você tem razão em dizer que esse momento é único e deveria congelar, os outros Iron's deixaram de ser um sonho para se tornarem apenas uma competição individual comigo mesmo, Parabéns e Um grande Abraço.