A Prova da Verdade


Dizem no mundo do ciclismo que a prova de Contra-Relógio é a prova da verdade, onde os melhores vencem, eu discordo. Com certeza é uma prova especial que requer condicionamento diferenciado, tanto que grandes nomes do ciclismo e campeões de Tour’s e Giro’s passaram a vida sem dominar esse tipo de prova.

No meio do ciclismo se fala muito em relação peso x potência, uma vez que as grandes provas são decididas nas montanhas. Tal relação leva em consideração a potencia em watts que um ciclista gera por um determinado tempo e divide esse valor pelo peso em kilos dele – Quem leu o livro “A Guerra de Lance Armstrong” deve lembrar do valor de 7 watts/kg que o Dr Maligno afirma ser o número em que um ciclista se tona imbatível no Tour de France (esse valor se dava pela potencia no limiar de lactato do atleta).

Mas o quanto dessa relação peso potencia influencia um contra relógio?

Na minha opinião, a não ser que seja um “crono-escalada” como foi em 2004 no Alp d’huez essa relação não quer dizer nada. Num CRI (contra-relógio individual) o que mais deve ser levado em consideração é a potencia relativa ao arrasto aerodinâmico e a variação desta potencia no decorrer da prova.

Potencia x Arrasto:

“O” cara do CRI hoje no mundo é um suíço que deve pesar de pernas o que o espanhol Alberto Contador pesa junto com a sua bicicleta J. Exageros à parte, Fabian Cancellara não é um cara pequeno, deve pesar na casa dos 80kg, o que é categoria “obeso” pra qualquer pretendente a campeão do Tour de France ou do Giro d’Itália, mas ao mesmo tempo ele é um monstro no quesito potência. Pra colocar números, Vamos imaginar que o Contador com seus 61kg esteja perto da razão estipulada pelo Dr Michelle Ferrari no livro do Lance. Isso daria um limiar de potência na casa dos 400 e poucos watts para o Espanhol.

Aí pegamos a locomotiva Cancellara com seus 80kg e um limiar (esrimado na casa dos 500 e la vai fumaça watts o que colocariam ele na casa dos “míseros” 6w/kg, não sendo assim um candidato a passar os Alpes e Pirineus na frente de todo mundo, mas o tornando provavelmente imbatível na briga contra o vento e o relógio ;-)

Variação de potencia:

Essa é talvez a maior arma do contra-relogista, mas também seu maior defeito pra lidar com o pelotão.

Todo arquivo de potência que eu já vi até hoje dos grandes contra-relogistas mostra duas coisas claras: a primeira (é óbvio) um MONTE de watts L, e a segunda é o incrível poder que esses caras tem de oscilar muito pouco essa usina de força independente de percurso, vento e etc. Alguns perfis de potencia parecem gerados por máquinas, de tão bem dosados. Lógico, eles fazem mais força nas subidas e com o vento na cara, mas esta variação é somente suficiente para manter aquela cadência, aquela batida. Nada que destrua as pernas nem que comprometa a capacidade deles ganharem velocidade uma vez que a subida acaba ou que o vento mude.

E este talvez seja o maior atributo de um contra-relógio perfeito, dosar as energias de maneira que você dê o seu melhor no percurso como um todo e não em determinada parte dele, como numa subida...

Um excelente exemplo é o do CRI de abertura do Tour ontem, era um percurso estupidamente duro (mas igualmente lindo) de 15,5km que subia mais da metade e a descida na volta era extremamente técnica. O vencedor? O próprio Fabian, enfiando 18s num dia onde até então a briga era por um, dois segundos... e o incrível é que em todas as parciais intermediárias (nas subidas) ele não aparecia entre os primeiros – fazer o que? Ele foi campeão olímpico com a mesma estratégia – será que funciona?

Pra dominar um CRI completamente ainda existe o fato de conseguir gerar toda essa potência numa posição aerodinâmica e numa bike com geometria diferente, mas isso é assunto que dá um outro “livro”

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