Virando a caça!


É quase certeza que na hora em que esta foto estava sendo tirada eu ouvia a seguinte frase do carro de apoio: “Senta que você está gastando energia a toa!” era a voz da Talita que, em parte estava aproveitando a oportunidade para dar um “troco” pelas vezes que eu falo isso pra ela durante nossos treinos, mas que com certeza não estava brincando e sim me ajudando muito ao me alertar por estar fazendo algo errado - O conselho de alguém que te conhece olhando de fora é extremamente valioso nesses momentos, e naquele nível de esforço essas coisas que passam despercebidas poderiam acabar com a minha prova...

Não é o fato de ficar de pé num contra-relógio, isso acontece e existem momentos específicos onde tal energia extra deva ser gasta, mas sim o fato de estar fazendo isso muito mais que o normal.

Ao chegar em casa semana passada, ainda feliz com o resultado obtido no paulista de contra-relógio, fui analisar meu arquivo de potência da prova, e uma surpresa: o desperdício de mais de 5% de energia sem obter velocidade em troca. Resumindo, tivesse eu feito uma prova melhor dosada, poderia ter andado o mesmo com 5% a menos de energia ou poderia ter andado mais rápido com a mesma força.

Como isso é calculado é um pouco complexo de se explicar agora (falo disso em outra oportunidade) mas basicamente o programa de análise de potência leva em consideração toda oscilação de potência durante o esforço e calcula gastos “desnecessários” acima da média gerada – Óbvio, que zero de desperdício de energia é algo bem difícil de se conseguir em percursos de estrada ainda mais para aquele perfil bastante “variado” e técnico, mas comparando com percursos parecidos acredito que um desperdício de 2-3% estava no limite do aceitável, e eu perdi feio numa área que eu sempre me julguei bom: consistência de esforço.

O “pace “em si foi muito bom, afinal a 2a metade do percurso eu fiz mais forte do que a primeira, e a passagem dos 15 aos 20km foram incrivelmente forte. Mas o que me perturbou foi aquela oscilação.

O fato de ter largado na Elite, com certeza teve seus efeitos sobre minhas decisões durante a prova. O atleta Jeovane de Oliveira, mais (ou somente) conhecido como Maminha, campeão paulista de 2008 estava largando duas posições (2min) atrás de mim, o que colocou uma pressão para eu começar mais forte que o normal. Em 2006 quando corri com a equipe de Ribeirão Preto, nós treinamos juntos e eu sabia que ele era muito forte no CRI, ainda mais em um terreno como aquele.

Mas o erro não veio da largada. Até a metade do percurso o “desperdício” ainda estava dentro do aceitável. O fato de no retorno eu ter visto que ele vinha a menos de 10 segundos atrás de mim fez com que eu “atacasse” muito mais as subidas na volta – A idéia de ser passado por um atleta num contra-relógio me assombrava àquela altura, eu nunca fui passado num contra-relógio e talvez esse tenha sido o fator que me levou a abandonar minha tática de prova e apelar para o instinto de sobrevivência. No final das contas funcionou, ele não me passou e nos últimos 5km consegui abrir um pouco dele. Mesmo assim ele fez uma excelente prova e foi 3o colocado – parabéns Maminha!

Não tenho a menor dúvida de que se eu tivesse mantido minha estratégia de prova e dosado a potência como eu costumo fazer teria desenvolvido uma velocidade media maior. Se isso teria influência em colocação melhor na prova é muito difícil de dizer, mas eu realmente aprendi muito correndo com uma pressão que até então eu nunca tinha dado importância.

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