Sobre "Treinos no Rolo"


Segunda semana e já começo a me sentir "gente" em cima da bike de novo.

O treino no rolo tem lá seus méritos... Afinal de contas, onde mais a gente pode passar um treino inteiro podendo se preocupar somente com coisas simples (mas que fazem muita diferença) como mecânica da pedalada, aplicação de força correta, movimentos circulares, etc.. e ainda fazendo isso em todo tipo de intensidade?

Essa semana troquei alguns e-mails com o Felipe Amante de SP, que como alguns outros “leitores” expressaram uma preocupação por não conseguir reproduzir nos treinos no rolo a mesma potência obtida na estrada. É uma preocupação legítima, já que na verdade não se consegue.

Pra mim, os principais motivos para isso são:

- Falta de inércia: a maioria dos rolos falta a inércia natural de se pedalar na estrada. Pelo fato da natureza de tal equipamento ser a de gerar uma resistência constante, toda vez que diminuímos a força aplicada aos pedais, o rolo tende a parar. Isso se torna um problema nos “pontos mortos” do ciclo, fazendo com que tenhamos que vencer a resistência cada vez que falhamos na aplicação de força. O quanto isso influencia, vai depender do tipo de rolo e da biomecânica de cada atleta, mas pra mim é um dos fatores que mais influencia a sensibilidade dos treinos indoor.

- Falta de condicionamento ao esforço constante: Isso eu vejo já com atletas que fazem uso do velódromo pela primeira vez. Todos acham mais “duro” pedalar num velódromo. Simplesmente porque durante toda nossa vida de ciclistas fomos condicionados a variação de intensidade ditadas por terreno, vento, etc.. Em resumo, um esforço mais constante requer uma certa adaptação do atleta.

- Falta de ventilação: Esse, pra mim é um dos que mais pega. Mas é altamente variável de atleta para atleta, e provavelmente atletas menores, com números de potência absoluta menores (e consequentemente menor trabalho mecânico) tendem a sentir menos. Eu faço meus treinos na hora menos quente do dia, as vezes com dois vetiladores, me hidratando horrores e mesmo assim sinto muito a falta de vento “de verdade” na cara.

- Fator “saco cheio”: Também é altamente variável. Tem gente que consegue ter foco pra passar horas no rolo. Eu particularmente tenho que quebrar os treinos, e se eles forem longos (mais que 2h no rolo é uma eternidade) divido em duas sessões de treino separadas no mesmo dia.

Por isso tudo, embora um watt seja um watt em qualquer condição, terreno ou lugar. É difícil para muitos (inclusive pra esse que vos escreve) reproduzir no rolo as intensidades conseguidas na estrada. Já li em listas de discussão na internet, alguns atletas (gringos, pois eles usam muito mais o rolo do que nós, ou pelo menos vocês rsrs) que definem novos números para o treino no rolo. Eu não acho que seja esse o caso. Eu simplesmente uso os mesmos números e tento fazer o meu melhor. O que acaba acontecendo é que. Uma vez que eu equalizo minha potência no rolo com as vistas na estrada, assim que eu vou testar na estrada esses números subiram. Provavelmente pelo ganho biomecânico que se tem de pedalar no rolo.

Conforto

Essa semana também tive a felicidade de poder comprar dois bretelles novos da Mynd Sportswear para os treinos. Eu já vinha usando somente as bermudas de triathlon deles para os meus treinos de pedal, e vinha experimentando um nível de conforto absurdo com as peças deles. Mas pela natureza dos meus treinos - Todo tempo que eu passo no rolo, é com a bunda no selim, sem poder levantar pra nada por causa do braço que ainda não pode apoiar peso – eu precisava de um pouco mais de forro nas bermudas. Os bretelles, assim como as bermudas de triathlon continuam vestindo como uma segunda pele, e facilitam horrores a vida em cima do selim.

Dica pra quem ta procurando coisa de qualidade! Eu particularmente era um usuário Pearl Izumi, e já não consigo mais me re-adaptar aos “gringos”.

Eu sei que esse negócio de bermudas e forros de ciclismo é “literalmente” que nem bunda, mas quem estiver descontente com o que ta usando eu recomendo!

(*) antes que perguntem, não sou patrocinado nem nada. Fiquei sim muito amigo do Cláudio (Mynd) depois que conheci os produtos e principalmente a filosofia por trás da marca.

Por fim, os treinos da semana:

Essa semana eu incluí mais um treino que vai passar a ser “chave” neste ciclo de treinos para tentar reestabelecer o condicionamento perdido. O treino de quinta-feira passa a ser parte integrante nas próximas semanas, procurando aumentar intensidades e duração, até chegar a 1h de série no FTP (a famosa versão da "hour of pain" do Bill Black).

segunda-feira: 2x20min isopower @ 80% do FTP. Mais do arroz com feijão desta vez trabalhando cadência acima dos 90RPM

terça-feira: o primeiro trabalho de Vo2 – o que ainda não é nem de perto uma prioridade neste período, mas vai ser usado esporadicamente para ajudar no condicionamento, historicamente eu preciso de estímulo curtos de Vo2 para ajudar na adaptação dos treinos de FT, e em fazendo isso eu tenho uma resposta mais rápida de adaptação a novas intensidades. 6x3min variáveis de 106-120% FTP com 3min de recuperação. Bom treino.

quarta-feira: 1h de giro leve com bastante trabalho educativo (on leg drill)

quinta-feira: 45min em L3 com uma aceleração de potência neuromuscular (10 segundos @ 400w+ a cada 3min). Treino excelente de adaptação à intensidade, uma vez que a não tem recuperação. Depois do trecho de alta potência, retorno à intensidade moderada-alta. Ótimo treino pra provas de circuito (vira e arranca) J

sexta-feira: Pela manhã uma série aeróbia de 2x32min em L2 trabalhando cadência a cada 4min (65-70RPM com 90-95RPM)

A tarde, mais do mesmo: 2x20min @ 80% só que desta vez com Big Gear (60RPM)

Sábado: recovery

Domingo: replay do treino “longo” de Sábado passado. 3x15min alternando cadência e intensidade, só que desta vez fechando com 6x3min no FT.

Total da semana: 8h45min de pedal. 28% em L3; só 9% em L4 mas com 5% em L5. TSS = 490 e fechando a 2a semana com um TSB de -24 pontos.

Abs

LODD

8 comentários:

Beto Nitrini disse...

LODD, durante a fase inicial da paternidade trenei bastante na sacada de casa no rolo, com ventilador na cara e tomando água de galão! Realmente é muito bom o treino, mas raramente consigo passar de uma hora.

Já que você conhece o dono (?) da Mynd, diga para ele que nos dias de hoje, entrar no site de uma empres por mais de 3 meses e se deparar com a frase "aguarde, site em construção" é inadmissível! rsrsrs
Abs e bons treinos!

LODD disse...

Betão,

Já encaminhei tua reclamação pro Claudião.

Abs

LODD

Max disse...

Eu só não uso trainer porque dono de loja que faz rolo perde os cientes.

Beto Nitrini disse...

Lodd, não é reclamação! É mais um toque, por que queima o filme da marca.

Me diz uma coisa, existe alguma tabela oficial de conversão de km na rua pra minutos no rolo?

Li alguns sites sobre isso e dizem 1min = 1km devido à desidratação etc...

abs!

Marcos Apene do Amaral disse...

Ótimo!
Para mim o rolo educa muito mais que a estrada do ponto de vista biomecânico e fisiológico todos nós atletas que pouca ou nenhuma base tivemos de ciclismo! Obviamente, desde que o atleta não seja um "tapado" na condução de uma bicicleta ou precise de rodinhas para sair por aí, é na minha humilde opinião, O TREINO. Minha única reclamação com o que eu acredito ser a mais poderosa ferramenta que já usei nos treinos de ciclismo (nunca usei medidor de potência) é a dificuldade de simular subidas e descidas, afinal, ao pedalarmos na estrada mudamos consideravelmente nossa posição quando nos deparamos com os aclives e declives do terreno (seja por falta de preparação, ergonomia adequada e por aí vai). No entanto, alguns rolos com "marchas" e reguladores de resistência, ainda assim ajudam e muito o atleta com pouco tempo disponível para pegar uma estrada, com foco, paciência e preparo para suportar os constantes esforços, a falta de vento e o saco cheio!
Que a volta às pedaladas seja triunfal! Bons treinos, MAA

LODD disse...

Betão,

Não consigo relacionar nenhum treino com quilometragem, nem mesmo de estrada pra estrada. Sempre converto em tempo. Meus treinos, séries e etc.. Se dão em minutos e horas. Distância só pra coisa muito específica como por exemplo treino pra provas de perseguição. Mas entendo seu ponto de vista e sua questão.

Bom, em se tratando de algumas adaptações fisiológicas como endurance, não acho que nenhum desconto deva ser dado. Mas posso te aformar com certeza que para muitas outas adaptações, o fato de pedalar 100% do tempo faz muita diferença. Portanto, para fims de treinabilidade de limiares, muscular, força e neuromuscular eu acredito que no mínimo equivale a uma vez e meia a mais. Um treino de uma hora no rolo eu reproduzo o stress de um treino de 90min na estrada sem fazer muita força. Treinos no velódromo são tão eficientes, se não mais até do que no rolo, pq tem coisas como sprint e pilotagem que não tem como fazer no rolo - sem kcontar no "educativo" que é andar de bike fixa :-)
Abs

LODD disse...

Marcos,

Simular subida é fácil. Só levantar a roda da frente. Os músculos usados então alteram iguais quando vc os usa em escaladas. Fazer fora do selim pode ser uma merda dependendo do rolo. Tem uns novos da kurt kinetic que permitem pedalar em pé com a mesma eficiência que se tem na rua.

Abs

Marcos Apene do Amaral disse...

Lodd, realmente, no meu kit treino no rolo, sempre tive duas opções de subidas (1 listão OESP ou 2 listões OESP devidamente encapados por conta do delicioso odor) mas nunca me senti bem ou encaixado como na vida real.
Seu resumo acima para o Beto é uma aula do que o rolo pode fazer por nós e podia ser resumido com a seguinte passagem (perdoe-me as inserções): para TODAS (ao invés de muitas outras) adaptações, o fato de pedalar 100% do tempo faz TOTAL (ao invés de muita) diferença. Portanto, para fims de treinabilidade de limiares, muscular, força e neuromuscular eu acredito que no mínimo equivale a 10 VEZES (ao invés de uma vez e meia) a mais.
E ainda extrapolaria isso mais e mais quanto menor fosse a experiência do atleta em questão!
Obrigado, MAA