Perseguindo...


"Porque as crianças gostam dos atletas? Porque eles perseguem os sonhos" - Amor sem escalas

O objetivo era baixar dos 5min nos 4km da prova de perseguição individual... Em princípio não parecia muito difícil, uma vez que eram só 11 segundos a menos do que eu fiz no Paulista em Americana, e desta vez além de estar fazendo alguns treinos específicos, a prova ia se dar num velódromo mais rápido, com piso de madeira e fechado... Mas não podia ser tão simples assim, afinal de contas os 4’59”999 são uma marca que todo mundo busca mas poucos conseguem – só pra ter uma idéia, no último campeonato brasileiro, com a elite do ciclismo de pista nacional somente 4 conseguiram tal feito.

Mas eu, em toda minha empolgação fui para a cidade maravilhosa com a convicção que conseguiria tal marca, mesmo tendo consciência que esses poucos segundos a menos representavam quase 2kph a mais no geral (e nessas velocidades, qualquer meio kph a mais representa um aumento absurdo de potência). E o que piorava ainda as coisas é que esse aumento de velocidade é ainda maior pois temos que levar em consideração que o começo da prova é sempre igual, partindo parado, portanto as primeiras centenas de metros acabam sendo igualmente lentos.

Quarta-feira chegamos no Rio na parte da tarde, depois de alguns percalços e fazermos um “tour” não programado pela cidade maravilhosa no meio de um transito digno de São Paulo. Mas mesmo assim chegamos com tempo de sobra para andarmos no velódromo (as maravilhas de um velódromo fechado e iluminado... saímos de lá mais de 9h da noite J).

A minha primeira reação deve ter sido igual à dos meus filhos quando foram para a Disneilândia. Estava maravilhado... aquilo era monumental, muito mais do que eu imaginava... imponente. Uma estrutura digna de jogos. Corremos para o nosso box localizado na parte de baixo das arquibancadas, descarregamos toda a tralha, pulei na primeira roupa de ciclismo que eu encontrei na mala (e como demorou pra achar), peguei a magrela e fui pra pista.

Assustei. Era muito mais “violento” do que eu imaginava. Era muito rápido. Não em termos de velocidade, quer dizer era mais rápido em termos de velocidade também, mas pelo fato dele ser mais curto (250m contra os 333m de Americana), com as curvas mais fechadas e as paredes mais íngremes (nossa... como elas eram íngremes) a sensação de velocidade com as forças querendo jogar você pra cima toda hora era de impressionar. Rodei por mais de 1h direto, fiz uns estímulos curtos de velocidade de prova, testei algumas relações e saí de lá assustado!

Minha vontade era a de ter treinado lá mais vezes, queria ter feito alguns “tiros” em ritmo de prova. Estava ficando apavorado... a impressão que eu fiquei era que não ia conseguir segurar a bike na linha e ia perder muita velocidade com isso.

Naquela noite durante o jantar, os outros ciclistas da equipe conseguiram me dar uma tranqüilizada. O Leandro tinha passado 20 dias lá treinando com a seleção antes dos jogos Sul-americanos e disse que tinha a mesma impressão, mas que na hora “h” tudo ia se normalizar. Será?

Quinta-feira, 1o de abril - dia da prova. De maneira impressionante consegui dormir muito bem, e muito. Acordei eram quase 10h da manhã e fui tomar café com a equipe. Ficamos batendo papo com os outros(as) atletas que estavam todos hospedados no mesmo hotel e voltei pro quarto pra esperar pro almoço. As provas estavam marcadas para começar a partir das 14h30min e a gente teria pista liberada a partir das 13h30min. Tinha umas 2h de “nada” antes de almoçar e tocar pro velódromo. Deitei na cama, comecei pensar na estratégia de prova e cochilei de novo.

Chegamos no velódromo no horário previsto, afinal de contas nosso hotel ficava a menos de 1km do portão principal do velódromo (vale colocar aqui que estávamos hospedados de frente pro Maria Lenk e pro HSBC Arena - fico imaginando estar hospedado ali na Rio 2016). Pegamos as bikes no nosso box, fizemos alguns acertos, e fomos pra pista. Eu mais do que depressa saí pra rodar – ainda queria me acostumar com aquela sensação. Pista fechada e a cabeça mais no lugar... as pernas que ainda não estavam lá essas coisas, mas tinha muito tempo até minha prova, mais do que suficiente pra fazer “aquele” aquecimento e ficar 100%.

Assisti a tomada de tempo dos 200m e a prova de scratch. Então fui para o vestiário, coloquei minha roupa de competição, peguei o iPod com o playlist “kill time” bombei o som nos ouvidos e fui pro rolo aquecer enquanto rolava a prova de kilometro. Entrei no meu mundo e aqueci por quase 1h no rolo.

Mais uma vez minha bateria era uma das primeiras (eles deixam os melhores para o final). Terminei o aquecimento, passei a bike pela aferição e em pouco mais de 10 min largaria. Sentei na beira da pista esperando minha vez e troquei as últimas palavras com o Estevão. Dicas dele: “Lembra de dosar o começo” a gente tinha combinado passagens para as primeiras voltas pro ritmo de 5min, e “Não errar é mais importante do que andar muito forte” uma vez que a pista jogava pra fora e qualquer curva muito fora da faixa é tempo perdido.

Coloquei a bike no gate pneumático, montei e esperei aquilo que pareceu uma eternidade até o comissário dar o ok pro juiz dar a largada. Diferente do paulista em Americana, dessa vez minha boca não secou na hora da largada mesmo com o calor absurdo que fazia naquele velódromo. O fato de largar de um gate automático também não me preocupava mais àquela altura. Eu tava focado nas linhas, nas 32 curvas e nas 515 rotações de pedal que eu teria pela frente. Era concentração, foco e perfeição por “apenas” 5min.

5, 4, 3, 2, 1... Larguei...

Diferentemente do paulista onde minha visão afunilou nas faixas, dessa vez eu tinha um panorama de tudo, e vi que na primeira volta, meu oponente tirou mais de 100m. Um breve momento de pânico tomou conta de mim, mas logo mandei pro espaço e mantive minha estratégia.

O Estevão estava na beira da pista, de “técnico” gritando as passagens, mas dessa vez como no paulista eu também não ouvia nada. Só podia ver pela cara dele que eu estava bem. Tentei uma vez olhar no placar eletrônico em vão, nem o placar eu achei que dirá os números. Foco e força!

Com 2km quem aparece na minha frente? O outro atleta que tinha quase tirado meia volta em uma. Com 2,5km passei e ele aproveitou pra vir na minha roda – a essa altura isso só importa para os outros que iriam disputar posição com ele, pois eu já tinha colocado pelo menos 18 segundos nele.

Mantive forte, e nos 500m finais ainda dei uma última “paulada”.

4’57”289

Agora os outros que corram atrás... eles foram, e como em Americana no paulista eu fiquei um tempão lá em primeiro. Tinha sido um tempo fantástico uma vez que todos estavam mais lentos que o ano passado (provavelmente por causa das condições climáticas, muito quente e abafado... sei lá) pelos tempos que tínhamos visto na prova de kilômetro.

Nas últimas baterias começaram os grandes nomes, e ha 3 baterias para o final o Wolverine (3o no paulista de Americana) baixou o meu tempo em 0,016s marcando 4’57”273 L Pelas minhas contas, ainda tinham 3 atletas mais fortes que eu para entrar que certamente baixariam meu tempo e já pintava um excelente top 5!

Penúltima bateria entrou Tiago Nardim (vice campeão brasileiro de 2009) juntamente com o Latino (4o colocado em 2009 e também sub 5min ano passado), e nenhum dos dois baixou de 5min!!! J Mas por fim veio o Piá (campeão de 2009) e fez um excelente tempo: 4’53”334 sozinho na pista, pois aparentemente o outro atleta que ia largar com ele não apareceu.

Resultado final: Piá bi-campeão, Wolverine vice e “eu” medalha de bronze... Ainda não caiu a ficha. Sei que ainda dá pra melhorar bastante, principalmente nos quesitos técnicos da prova como largada e “pilotagem” na pista curta, sem contar no meu eterno motivo de discussão com os ciclistas de pista que é minha relação monstruosamente pesada para os padrões da categoria J

Agora é focar de novo que semana que vem tem o Long Distance de Caiobá junto com outras “aventuras”. O que vai acontecer nesta próxima prova eu não sei, mas com certeza os primeiros 4km do pedal tem grandes chances de serem RÁPIDOS J

LODD

11 comentários:

simplifique disse...

animal, parabens.
eu ia assistir as provas, ia ...
usei esse dia para fazer o fit na minha bike, pois nao trabalhei. mas, o cara remarcou o horario e tudo foi perdido. uma pena, mas a bike esta destruindo o meu joelho.
abs.

Daniel disse...

Parabéns cara, tenho acompanhado o blog silenciosamente ja a algum tempo, parabéns pela força pela garra e pelo incentivo, mesmo quando não diz nada saiba que tem muita gente que se espelha em Herois como você......abraço

Bel disse...

Mesmo depois de acompanhar pelos tweets, ainda é uma emoção ler seu relato. É uma alegria e orgulho ver o que v. conseguiu, o que v. pode.Impossível não pensar nos seus próximos treinos e provas.V. ainda vai no surpreender mais, tenho certeza.
bj

Alexandre Gantus disse...

Não sei bem o que comentar...

Não preciso falar que os ciclistas de pista devem tremer cada vez que te vêem!

Que devem ficar loucos quando te vêem sair para correr ou nadar!

Que mesmo indo para uma área "nova", que não é a sua, pega em terceiro!

Que se tivessem colocado mesmo os mais fortes para o final você seria vice!

Que o que mais vc incentiva na minha opinião é o fato de ser possível melhorar ainda mais, mesmo sendo muito forte!

Que desde que você entrou na equipe todos os triatletas melhoraram muito o pedal!

Enfim, parabéns!!! Você é mesmo inumano!!!

Ale

cfportugal disse...

Acho que o Alé escreveu muito bem, vc inspira as pessoas, impressionante marca, impressionante a pessoa que vc é.

Parabéns de coração, to feliz e emocionado pela conquista.

Boa prova em Caiobá, vou torcer denovo e sempre !!!!

Sebastian disse...

Espetacular Lodd!
Parabéns mais uma vez e aproveito para lançar a campanha oficial: "Lodd em busca do recorde da hora no age group". Vc tem condições reais de chegar lá.

O Lado ruim das tuas aventuras em velódromo é o risco de perder um parceiro de triathlon para outro esporte, tá nas suas mãos - opa, nas suas pernas :-)

Abraço!

Max disse...

Podium no Claro 100....Podium no Velódromo....se não houverem surpresas em Caiobá......

Duro, mas duro mesmo, vai ser a tal de Graciosa. Você ao menos é abençoado com o desconhecimento de causa. O conhecimento dela já está deixando as MINHAS pernas moles.

Abraço e parabéns,

m.

ciro violin disse...

Que da hora!!!!!!!!!!
Que da hora messssssmo!!

P A R A B É N S ! !

Entrei no seu texto, e lembrei muito do filme: O Escocês Voador.

Muito legal!
Parabéns do Ciro fã do LODD

LODD disse...

Pô galera... agora vocês pegaram pesado... Deu até nó na garganta de ler alguns comentários ;-)

Daniel, Alê, Chirs, Sebá e Cirão: Obrigado pelas palavras, comentários como esses vindo de pessoas e atletas como vocês significa MUITO!

Xampa, vai atras de arrumar o fit dessa bike porque joelho é f...

Bel, acho melhor a gente não comentar sobre meus treinos "secretos" com vc na Cia, né? Toda a força que vc me passar vale MUITO nas horas de sofrimento. Obrigado pela companhia, pelos loongos papos e por todo o incentivo!

Max meu filho, não adianta querer me assustar mais. No Rio eu conheci duas meninas "pisteiras" (a Ana Paula e a Rafaela) que me deram todos os detalhes "sórdidos" da escalada, mas como vc bem disse a ignorância é uma bênção e é com esse sentimento que eu vou pra lá...

Abs

LODD

Cammarata.BRA disse...

Cara; surpreendente...
Animal;
Inspirador...
Meus parabêns, e sucesso nos próximos desafios!!
abs

Marcos Apene do Amaral disse...

Inspirador mesmo!
Gambaré, MAA